sexta-feira, 1 de junho de 2007

A Visão do Cemitério

A visão do cemitério sempre nos causa certo temor. Visitá-lo, só mesmo como obrigação, algo forçado: em enterro de parente, de amigos próximos, de celebridades, de pessoas com quem estabelecemos um vínculo qualquer.
Quando criança, ir ao cemitério no dia 2 de novembro, geralmente sob um sol escaldante, era uma obrigação mórbida, revestida quase sempre de curiosidade: caminhar pelas ruas dos túmulos à procura de algum conhecido morto, olhar as fotos e ficar imaginando como seriam essas pessoas em vida. Ou, simplesmente, vagar o olhar sobre as torres, as cruzes, os vasos, as inscrições, as estátuas de anjos e as diferentes edificações, numa experiência sem sucesso ao tentar decifrar aquela estranha, irreal e silenciosa moradia.
Hoje, vou visitar o cemitério sem nenhuma obrigação. Com outra curiosidade e olhar: entender e registrar as diferenças construídas. A construção do cemitério, mantendo todas as diferenças existentes em vida – edificações imponentes, outras pobres, locais valorizados contrastando com simples espaços –, somente resulta numa tentativa inútil de dissimular o nivelamento imposto pela morte.